1. O investimento no olival intensivo, ou no amendoal, ou em outras modas, ao contrário de ser um bom exemplo de empreendedorismo, de pujança do capitalismo, apenas revela o seu carácter parasitário. Tal investimento é feito a partir de financiamentos públicos nacionais ou da União Europeia e assenta na utilização de um megaempreendimento público, o Alqueva.
2. Esse investimento assenta na sobre-exploração da terra com a utilização maciça de agroquímicos, com consequências que não são ainda conhecidas. Quando, daqui a 20 ou 30 anos, os primeiros olivais começarem a definhar, o que fica? O que crescerá naqueles campos? E aos lençóis freáticos para onde escorrem esses químicos, que controlo está a ser garantido?
3. Trata-se de um modo de produção que utiliza mão-de-obra quase escrava. Centenas ou milhares de trabalhadores trazidos do outro lado do mundo, a ganharem uma côdea de pão, apenas porque na terra de onde vêm ganhariam ainda pior, amontoados em estruturas precárias, colocando problemas logísticos em aldeias onde chegam a ser mais do que os habitantes. Há até alguma intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que tem tido resultados, mas que se caracteriza por nunca anunciar quais as herdades, quais as sociedades agrícolas onde trabalham estes trabalhadores. Desmantelam-se redes ilegais de tráfico de seres humanos mas nunca se questiona aqueles que aqui contratam – em última análise, os donos do olival ou vinha, que são sempre ilibados de qualquer responsabilidade, uma vez que compraram um serviço e nada mais têm que ver com isso.
4. Estas produções, pela pressão que exercem sobre os territórios, põem em causa mesmo o património histórico-cultural. São arrasados vestígios da presença humana ancestral para que não se perca um metro quadrado sequer de plantações.
5. Um modo de produção que coloca sérios problemas de saúde pública, quer pela aplicação intensiva de pesticidas e herbicidas quer pela proximidade das habitações que entretanto atingiu. Matéria que levou mesmo a delegada de saúde de determinado concelho a pedir uma reunião com a Direção Regional de Agricultura e Pescas, há mais de um ano, que ainda não se concretizou. Matéria tanto mais grave quanto, ainda por cima, são culturas que podem ser classificadas no Modo de Produção Integrada, recebendo apoios por medidas agroambientais.
6. Com estas produções, contrariamente à ideia de que darão um grande impulso à economia, o legado que deixarão é apenas de mais dependência. Até se pode equilibrar a balança agroalimentar por esta via, em valor, mas fica posta em causa a nossa soberania alimentar, com a perda da diversidade agrícola. Acresce que é necessário estarmos muito atentos aos projetos de apoios e incentivos à produção de azeite para biocombustíveis, para substituir o óleo de palma. Passar a produzir azeite para biocombustíveis seria ainda mais grave.
7. Por último, importa dizer que o ministro da Agricultura, nas suas múltiplas declarações em defesa do olival intensivo, muito agastado com os que denunciam os problemas, faz afirmações que são, no mínimo falaciosas.
– Diz que esta cultura é uma das que menos água utiliza. Ora, se compararmos o olival superintensivo com o arroz, ou com produtos hortícolas, consumirá menos água. Mas a comparação que deve ser feita é com o olival tradicional, que não gasta água nenhuma.
– Diz que não estamos perante uma monocultura. Afirma que 39.000 hectares em três milhões, de todo o Alentejo, não têm significado. Ora o problema é que esses 39.000 hectares não estão espalhados por todo Alentejo, antes se situam em poucos concelhos, sendo que algumas freguesias concentram já mais de 1000 hectares de olival superintensivo.